Rua Pe. Martinho Pinto da Rocha São Tomé, São Tomé e Príncipe

20 de Dezembro

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Lc 1,26-38

Conceberás e darás à luz um Filho…

 


Depois de ter meditado ontem a expectativa ativa e solícita de Maria, que se concretiza com a visita à prima Isabel (cf. Lc 1, 39-45), hoje a liturgia nos faz recuar no tempo, com a densa passagem da Anunciação.

E refletindo sobre este evangelho, a nuance de Maria diante da mensagem do anjo nos comove, porque, Ela, desde o coração perturbado até a pergunta sobre o sentido da saudação de anjo, permanece sempre temente a Deus.

Além disso, esse aspecto nos revela que Maria não é uma linda marionete nas mãos de Deus, e nem tem um roteiro aprendido de cor.  Deus fala sempre, e a nossa vida está cheia das suas mensagens de amor, ternura, necessidade, confiança, desafio, porque Ele conta connosco, contigo e comigo.  Responder é deixar-se livremente envolver e com a consciência daquilo que somos: livres filhos e filhas de Deus. E Maria, igualmente, fez isso.

Sublinhando essa passagem novamente, podemos dizer que os pedidos de Deus nos criam bagunça, nos  expõem a desordem, reviravoltas e inquietações.  Maria se deixa perturbar pela palavra do anjo, se deixa questionar. Ela não responde de imediato, mas fica em silêncio, questionando sobre o significado daquela saudação – “Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo” – e não sobre o seu por quê. E depois pergunta “como será isto …?”, isto é, como será possível o que o anjo lhe pede – “conceberás e darás à luz um Filho”.

Tudo isso é muito importante para nós também. Somos capazes de nos expor, de nos deixar perturbar pela Palavra, de dar a nossa disponibilidade sem controlar tudo, de deixar que a Palavra nos abra perspectivas novas e inesperadas? Este tempo de advento nos desafia, nos leva a meditar sobre a nossa vida neste mundo? E a Palavra de Deus tem encontrado um espaço, um recanto do coração pronto para recebê-la?

Coragem, queridos amigos!  Olhemos para Maria, que ela seja o modelo destes últimos dias de espera do Senhor. Talvez ainda não saibamos o que Ele está nos pedindo, talvez tenhamos ideias confusas ou talvez o nosso coração esteja tão distraído e murcho que nem percebemos que uma Palavra está batendo e pedindo para ser acolhida.

Por isso, como nos diz São Bernardo, abade, “Responda sem demora ao Senhor por meio do anjo. Pronuncia uma palavra e recebe a Palavra. Profere a tua palavra humana e concebe a divina. Diz uma palavra transitória e acolhe a Palavra eterna” (Das Homilias em louvor da Virgem Mãe 4, 8-9).

Saibas disto, caríssimos: para se encarnar, Deus não pede uma deusa ou uma nobre poderosa, mas uma pequena e humilde menina de aldeia. É a lógica de Deus que exalta os humildes (cf. Lc 1,52).

E Maria fala com o príncipe dos Anjos Gabriel de igual para igual, sem medo, pede informações, não vive nas nuvens, sabe bem o que significa enfrentar o futuro.

Caríssimos, a vocação do cristão é análoga à de Maria. É Deus que continua dizendo: “abre espaço para mim no teu coração”. Sê, sejamos o ventre de Deus, e gera-O, geremo-Lo para o mundo.

Boa meditação e boas festas de Natal a cada um de vós, caríssimos! JB