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Rua Pe. Martinho Pinto da Rocha São Tomé, São Tomé e Príncipe

Natal do Senhor – Missa do Dia – Ano C

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Is 52,7-10; Heb 1,1-6 ; Jo 1, 1-18

… o Verbo fez-Se carne e habitou entre nós

 

Diante da tragédia que vivemos e ainda vivemos com a dolorosa experiência do Covid, esta afirmação de São Leão Magno vem até nós de propósito: “Caríssimos irmãos, hoje, nasceu o nosso Salvador. Alegremo-nos. Não pode haver tristeza no dia em que nasce a vida, uma vida que destrói o temor da morte e nos infunde a alegria da eternidade prometida” (Sermo 1 in Nativitate Domini, 1).

Deus desce das estrelas e vem habitar entre nós, torna-se um homem como eu, como tu e como nós. Ele consola os homens com a vinda do seu Filho entre nós e nos pede que o acolhamos, que mudemos de opinião sobre Ele e sobre nós, tornando-nos testemunhas do seu verdadeiro rosto.

Eis o seu Deus, Israel, eis aquele que tu estavas esperando.  Eis o teu Deus, homem, eis o teu Deus, mulher, para o qual sempre sois chamados a sacudir as vossas sandálias do pó do hábito, para o qual estais ao serviço do evangelho e não de vós mesmos, sois chamados a ser “mensageiros que anunciam a paz, que trazem a boa nova, que proclamam a salvação”.

Saibais disto, caríssimos: Deus não é como O imaginávamos, distante, estranho, acima de nossa existência e incompreensível. O Menino que nasceu tornou acessível a nós o rosto invisível de Deus Pai. Seu amor por nós humilhou a Sua grandeza; Ele se fez semelhante a nós para que O recebemos; Ele se fez semelhante a nós para que d’Ele nós nos revistamos. Para nos salvar, Ele entra totalmente na nossa existência, experimentando a fragilidade, a precariedade e a pobreza, reconsagrando nosso corpo, devolvendo-lhe a sua dignidade.

Para a Igreja, portanto, o Natal não é um “brincar com Cristo que nasce” ou uma representação sagrada, não é uma pálida memória ou nostalgia do passado, uma fantasia poética, um jogo de sentimentos. Tu, cristão quando observa o presépio o que pensas o que imaginas?

Pois é, o Natal é Deus que, cansado de ser mal interpretado, decide assumir uma face e um rosto para poder se explicar, contar, colocar-nos perante a prova desarmante da sua intimidade. O Natal é um mistério do renascimento universal. 

É o Filho de Deus que se torna uma criança frágil para elevar o homem mortal à dignidade de filho de Deus. Diante de Deus que se revela, nesta criança, temos três possibilidades de responder: acolher, rejeitar ou sentir-se sempre em busca.

Acolher – “A quantos, porém, a acolheram, deu-lhes poder de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1,12), quem acolhe torna-se filho de Deus. Acolhem-na aqueles que alcançam a liberdade diante das coisas deste mundo. Acolhem e se tornam filhos de Deus, tornam-se soldados e apóstolos de Cristo, eis o mérito do Sacramento do Crisma que fizemos …

Rejeitar – “A luz brilha nas trevas e as trevas não a receberam” (Jo 1,5); … “Veio para o que era seu e os seus não O receberam” (Jo 1,10). Rejeitam a luz aqueles que, segundo João (3,19), a temem, fazendo o mal, porque a luz destaca o seu mal, a luz mostra que eles estão extraviados.

Então, fazendo parte daqueles que acolhem a Palavra, mas também desta terceira categoria, nós devemos nos sentir sempre em busca, porque Deus nunca se encontra plenamente, sempre nos supera, assim como não podemos chegar a uma compreensão plena e total de  tudo, porque na fé estamos sempre no caminho enquanto deambulamos pelas estradas deste efémero mundo. 

Devemos, portanto, sempre ascender, crescer, investigar, sem nunca esgotar o mistério de Deus, mas também sem nunca esgotar a nossa sede por Ele.  E disso Santo Agostinho afirma o seguinte: “Quando tiverdes sede e fordes beber numa fonte, não deveis desejar secar a fonte, mas sim deveis apenas desejar matar a vossa sede”.

Agora, cabe a nós, neste tempo de duras provas, ajudar Deus a se encarnar novamente nas nossas vidas, nossas ruas, nossas casas, nossas comunidades, tornando-nos homens de esperança, cultivando e preservando a esperança em nós, para que possamos transmiti-la aos que estão desanimados, desapontados e com medo. 

Lembrai-vos, que ontem à noite, o anjo, apercebendo-se do grande temor por parte dos pastores, disse: “Não temais, porque vos anuncio uma grande alegria: nasceu-vos hoje um Salvador, que é Cristo Senhor”.

Boas festas de Natal a todos vós!