Comummente se diz que os jovens são o futuro de qualquer comunidade, seja ela a célula familiar, a comunidade nacional ou internacional e também a eclesial. Como tal esta proposta de reflexão aponta para uma visão de mútua colaboração na construção do futuro, ou seja as comunidades devem cuidar das novas gerações para que estas possam ser a sua construção e continuidade futura. A sociedade (família) e a Igreja «são chamadas à mais estreita colaboração naquela missão fundamental que é constituída, inseparavelmente, pela formação da pessoa e pela transmissão da fé» .
Com esta citação do Papa Emérito quero asseverar a vossa atenção, da comunidade em geral e da Igreja da África Austral em particular para a necessidade de cuidarmos da educação responsável e convicta dos jovens se quisermos produzir indivíduos generativos, ou seja, capazes de ser o futuro das nossas comunidades particulares e da região no seu todo, pois é na formação das pessoas e na transmissão da fé que preparamos um futuro de continuidade e de crescimento simultâneos.
O futuro social e eclesial como fruto da dialéctica de auto construção entre a juventude e a comunidade
É um imperativo, o cuidado da transmissão de virtudes às novas gerações, de modo a torna-las adultas (generativas) e colaborativas no processo de desenvolvimento e continuidade da própria comunidade de pertença (e de referência).
Estas virtudes correspondem essencialmente aos valores humanos (evangélicos), necessários para a sociedade e para o prosseguimento do bem comum e pessoal.
Neste sentido, deve estar no centro das preocupações sociais e eclesiais a promoção da escola, da família, da catequese, como lugares de formação das novas gerações nos valores como a responsabilidade e o cuidado do futuro social e humano, já que, o futuro passa pela personalidade de cada membro que integra e vai integrando continuamente a comunidade.
Há poucos dias, Papa Francisco ressaltou a expressão “acompanhar” ao dirigir-se aos que guiavam os jovens na Itália em Acampamento Alpha, recebidos em Vaticano, lembrando que esta deve ser uma palavra-chave para a Igreja . Depois aconselhou os jovens a terem Cristo Jesus como companheiro de viagem, pois “Unidos a Jesus, cada um de nós se torna uma semente destinada a brotar, crescer e dar frutos”. E muitas vezes o que leva os jovens aos caminhos da morte, como ingressar nos grupos extremistas é a ausência de uma figura, uma doutrina ou uma ideologia forte e envolvente nas nossas actuais conjunturas.
Francisco recorda, igualmente, aos jovens que participaram do Festival (Mladifestv) em Medjugorje que se realizou de 1 a 6 de Agosto de 2022, que “Jesus sabe como a vida pode ser dura e que há muitas coisas que sobrecarregam nossos corações”. Por isso a chamada “vinde a mim e aprendei de mim”. “Esta chamada requer caminhada e confiança – continua o Papa – e não nos permite ficar parados, rígidos e temerosos diante dos desafios da vida. Parece fácil, mas em momentos escuros simplesmente nos retiramos para dentro de nós mesmos. É justamente desta solidão que Jesus quer nos fazer sair, e é por isso que ele diz: ‘Vinde’” .
Como referido na minha dissertação para mestrado, a personalidade dos jovens reflecte as relações dos mais velhos: dos pais e outros membros da comunidade. Por isso, a Igreja como Mater et Magistra deve, como o faz o Papa, orientar as sociedades na nossa sub-região a ter e a mostrar uma abordagem convicta orientadora, centrada na figura do homem perfeito que é Cristo .
A Igreja e as sociedades, centradas na família, devem ser conscientes do seu dever conatural, de gerar, cuidar e fazer desenvolver novos membros da comunidade, ou seja, sua própria continuidade. A educação cristã radicada na fé «tudo ilumina com nova luz e manifesta as intenções de Deus sobre a vocação integral do homem»
Na literatura psicossocial da relação, desenvolveu-se o conceito de cuidado equilibrado, necessário para a construção de uma comunidade harmoniosa.
Os jovens generativos, isto é, capazes de construção de uma sociedade harmoniosa, são-nos influenciados pelos factores importantes, como a escola e o trabalho que ajudam a gerar o bem-estar pessoal e comunitário, a realizar uma transição sadia a fase adulta, a encontrar autonomia . Os jovens têm a própria identidade formada da identidade familiar, social e eclesial.
A generatividade social, é um processo da auto-geração paralela a educação dos jovens, num modelo de “sociedade educante”, como afirma Amadeu Ngula . Os jovens devem ser receptivos e transformadores, abertos no confronto com as novidades que em cada dia os circundam e ao mesmo tempo ter a capacidade de filtrar e construir as próprias ideias, pensamentos e diferenças, novidades e resiliências. Ou seja, devem ser mestres e aprendizes na construção das próprias e subsequentes sociedades.
As futuras gerações devem instaurar, enfim, uma dialéctica, entre a continuidade dos precedentes espaços relacionais e a afirmação da diversidade e de um novo enriquecido espaço relacional. Deste modo os jovens criam uma ponte entre as origens, as tradições de fé e cultura, e as futuras possibilidades. E qual a contribuição da Igreja neste processo dialéctico da mútua responsabilidade entre as sociedades e os jovens?
No seu estudo “A Globalização chama África”, Emilio Grasso apresenta a necessidade de partir de “opção evangélica preferencial pelos pobres e pelos jovens, pelos povos oprimidos e crucificados” , para se avaliar os caminhos que a Igreja deve percorrer nesse processo. E São João Paulo II na Centesimus annus dirá que os caminhos reais e eficazes «podem nascer no quadro das diversas situações históricas, graças ao esforço de todos… sociais, económicos, políticos e culturais. A Igreja oferece orientação da própria doutrina social, que reconhecendo os valores destes aspectos indica a necessidade de elas se orientarem para o bem comum» .
Concluindo
Portanto, O futuro social e eclesial na nossa região austral passa inexoravelmente pelo cuidado da identificação, do gerar confiança e do transmitir o sentido de pertença e, simultaneamente, do abrir aos jovens o conhecimento dos valores (evangélicos essencialmente), normas, direitos e deveres da comunidade .
No contexto actual e na perspectiva do futuro, Igreja deve mostrar que só existe desenvolvimento de um povo quando se aposta na formação das consciências, na maturação das mentalidades e dos comportamentos. Deve testemunhar aos jovens a necessidade do desenvolvimento de cada homem e mulher como filhos de Deus, criados a sua imagem e por Ele amados sobre toda a criação. Por isso nenhum bem material se deve colocar acima dos valores da humanidade .
Os actuais jovens devem saber reconhecer em primeiro lugar a sua importância dentro das comunidades e usar desta posição para ser o motor na construção de uma comunidade regional mais forte e coesa social e eclesialmente. Em segundo lugar, devem saber acolher o “velho” integrá-lo na sua personalidade colectiva e transformá-lo em “novo”, inserindo novos contornos e influência, que vem da globalização e da criatividade, de modo a tornar aquela importância mais valiosa. Em terceiro lugar, reconhecer que as comunidades do futuro dependerão muito de como acolhem e promovem a colaboração eficaz.
Da IMBISA